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Destaques

Ogroleto - beleza sem cerne

Por Marco Vasques e Rubens da Cunha

Ogroleto conta a história de um menino que se percebe muito diferente das demais crianças e lida com essa diferença para ser aceito. Na dura tarefa da aceitação, ele conta com a ajuda da sua mãe. A peça trata de temas muito presentes na infância, como medos, dúvidas e diferenças. Tangencia os contos infantis Chapeuzinho Vermelho, O Lobo Mau e a lenda popular do Lobisomem. O texto, da escritora canadense Suzanne Lebeau, não se rende aos tons moralizantes habitualmente presentes nas releituras dos contos infantis. O espetáculo se inicia com Ogroleto se preparando para o seu primeiro dia de aula e recebendo alguns conselhos de sua mãe, quais sejam: respeitar os colegas, prestar atenção nas aulas e respeitar a professora, com um alerta adicional que orientará toda a fábula: tomar cuidado com a cor vermelha. Ogroleto tem um fascínio físico pelo vermelho.

Já de arrancada se percebe o tratamento que o grupo Pavilhão da Magnólia, de Fortaleza, tem com o cenário, que é constituído de duas plataformas giratórias que se sobrepõem, com o figurino, a sonoplastia e a iluminação. O ambiente criado para a fábula revela um tratamento visual sugestivo e provoca uma reverberação potente no olhar do espectador.


Foto: Jorge Etecheber


A direção é do experiente Miguel Vellinho, que é ator, manipulador e professor universitário. Vellinho foi um dos fundadores do Grupo Sobrevento e da Cia. PeQuod – Teatro de Animação. Esta desde 1999 vem se apresentando com uma série de espetáculos, tais como: O Velho da Horta (2002), e Peer Gynt (2006), A chegada de Lampião no inferno (2009), Marina (2010), A Tempestade (2012), PEH QUO DEUX (2014) e A feira de maravilhas do fantástico Barão de Münchausen (2015). Além disso, atua como diretor para companhias diversas, como é o caso do espetáculo Ogroleto, produção do grupo cearense Pavilhão da Magnólia, que está na programação destinada ao público infantil no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto.


Foto: Jorge Etecheber


O Pavilhão da Magnólia, por sua vez, surgiu em 2005, na cidade de Fortaleza, Ceará, e produz espetáculos tanto para o palco como para a rua, focados no público adulto e infanto-juvenil. Pavilhão produziu espetáculos como A Revolta das Coisas (2005), O Pássaro Azul (2008), Pétalas (2009), Festa (2012), entre outros.

Ogroleto é uma produção de 2015 e, apesar de todo o tratamento delicado, da escolha de um texto que foge às comuns idiotizações do público infantil e da experiência do diretor Miguel Vellinho, o que se vê em cena é uma beleza sem cerne.


Foto: Jorge Etecheber


Os atores Nelson Albuquerque e Silvianne Lima, não obstante o espetáculo já ter dois anos de existência, não encontraram o tom do jogo cênico para fazer de Ogroleto um espaço de teatralidade capaz de avivar o público. Além do ritmo arrastado do espetáculo, o que o faz parecer muito mais longo do que realmente é, o trabalho está quase que totalmente fincado na palavra. A dinâmica cênica não está presente na narração da fábula, o que leva o espectador à sensação de estar diante da leitura de um livro, pois todo o ambiente cênico pensado e criado se apresenta apenas com comentários ao texto, não como parte integrante de um todo.

A cena final — na qual Ogroleto revela o delito de ter devorado sua amiga, após ter passado por outros dois testes com objetivo de entrar na ordem normativa — alcança, em alguma medida, a força interpretativa ausente no todo da obra. A montagem, apesar de toda acuidade apontada, precisa encontrar sua partitura interpretativa e receber, na direção, uma olhar digno da competência e da experiência de Miguel Vellinho.

FICHA TÉCNICA

Autora: Suzanne Lebeau.

Tradução: Jorge Bastos.

Direção: Miguel Vellinho.

Elenco: Nelson Albuquerque e Silvianne Lima.

Música Original: Airton Pessoa.

Músico: Eliel Carvalho.

Figurinos: Yuri Yamamoto.

Cenário: Carlos Alberto Nunes.

Iluminação: Wallace Rios.

Operação: Luis Albuquerque.

Apoio técnico: Denise Costa, Gabi Gomes e Beethoven Cavalcante.

Produção: Jota Jr. Santos e Silvianne Lima.

[O Caixa de Pont[o] - jornal brasileiro de teatro - foi convidado pela organização do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto para fazer parte do Painel Crítico, com objetivo de fazer a cobertura crítica do Festival]


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